Estamos reproduzindo este artigo do violonista Wagner Meireles um dos grandes entusiasta da obra do alagoano Luiz Gonzaga da Silva, que nasceu em Piranhas-AL e que em 2019 estará fazendo 100 anos, se estivesse vivo. Aproveitamos o ensejo para anunciar que www.forroalagoano já esta articulando ações para realizar as comemorações deste grande mestre do violão brasileiro, com palestras, exposições em Piranhas, Delmiro Gouveia e Maceió. Maiores detalhes entre em contato com José Lessa Gama.
Nascido em 1919, na Cidade de Piranhas-Alagoas, Luis Gonzaga da Silva, é herdeiro direto da tradição didática do violão em nosso país. Chegou ao Rio em 1945. Trabalhou como marceneiro em várias empresas,também trabalhou como alfaiate em sua alfaiataria em Pilares, onde teve a oportunidade de conhecer vários músicos. Entre eles Ivo Cordeiro, José Augusto de Freitas, Luiz Bonfá, Euclides Lemos, Roberto Silva, Luiz Alan e Dilermando Reis, tendo sido esses dois últimos seus únicos professores de violão no Rio de Janeiro. Sua obra é um diálogo constante entre duas vertentes: O popular, de sua terra Natal (Alagoas), onde desde criança foi ligado à música, tendo observado e participado de várias manifestações folclóricas, e do Rio de Janeiro, onde desenvolveu todo o seu romantismo nas serestas Cariocas de meados do século passado, tendo se relacionado com Dilermando Reis e Luiz Bonfá, por isso seu talento ao compor choros,valsas, bossas,criou inclusive séries de peças por ele intituladas: Sincopados e Choromíngos.(em processo de organização).
O erudito, através sua formação musical acadêmica, onde além da tradição de obras didáticas, passada pelo professor e Violonista Luiz Alan, com o qual conheceu a escola de Tárrega, também lapidou seu talento de compositor no curso de Linguagem da Música com o professor Paulo Silva, além de sua atuação regular como violonista e professor de violão. A grande admiração pelo repertório erudito internacional e o contato que teve com o mesmo, foram fatores que definiram o alto nível de suas peças, tinha em J.S.Bach, A. Barrios e Andrés Segóvia, os pilares de sua concepção fraseológica, de forma imitativa, desenvolveu peças contemplando vários períodos e estilos, destacando os períodos: Barroco e Romântico.A frustração de não ter participado de um concurso de violão despertou-lhe o interesse em compor peças com o mais alto nível técnico e interpretativo com características virtuosísticas.
O Choromingo representa a perfeita união do clássico com o popular, com passagens harmônicas típicas de uma grande peça erudita, mas com a forma de um Choromingo. Ponto alto do romantismo Gonzaguiano, “Eu quis demais um falso amor”, retrata o sentimento latino-americano tal como Agostín Barrios e outros grandes compositores que fizeram parte de sua formação violonística. O prelúdio “Aprazível”foi dedicado ao célebre violonista Jodacil Damasceno,Através de movimentos característicos do violão tais como: Arpejos, Campanelas e Rubatos, desenvolve uma linha melódica exuberante. A Sonata Brasil-Espanha retrata a visão do compositor, dessa fusão de culturas, misturando as “touradas de Madrid” com os seus Choromingos e Marchas, mas sem perder o caráter virtuosístico das grandes Sonatas. Corta Vento é uma peça só, porém de alto grau de dificuldade, pois exige do interprete alto domínio do violão, como inspiração podemos notar a influência dos compositores: J.S.Bach, Agostín Barrios e Villa Lobos (para esse último lhe é concedida uma homenagem (Homenagem a Heitor Villa-Lobos) com harmonia moderna e concessões que antes não lhe eram simpáticas: tais como intervalos proibidos, etc., que foi por isso dedicada ao maior nome do violão brasileiro internacional. Turíbio Santos, atual Diretor do Museu Villa Lobos. Grandiosa sim, foi a preocupação didática de sua obra. Sem pretender se colocar como o grande compositor que é, compôs um grande número de músicas, das quais apenas uma fração pode ser documentada, pois por vários motivos se perderam ao longo de sua vida.
As peças: Candura, Meigo, Valsa n° 2 e Ilda Cristina, transparecem todo o seu Romantismo. Desde criança que observava sua rotina como professor, mas somente na adolescência pude perceber sua importância artística, no sentido mais amplo,não só por sua vasta cultura musical mas por estar diante de uma figura importante para a história da música Brasileira.Sua vida simples, com hábitos rotineiros o levava a compor como se fosse uma função vital, naturalmente, como quem respira.Presenciei algumas análises preconceituosas sobre sua obra, aliás, nem uma considerando suas influências, suas peculiaridades como compositor, seu estilo, sua criatividade e invenção, isto por vezes dificultava a compreensão por parte de alguns violonistas, que por não terem acesso às obras e aos fatos históricos, encaravam o compositor somente como popular, desperdiçando sua parcela erudita.
Em 1995, quando ingressei no curso superior de Violão da UFRJ, graças aos trabalhos que apresentei em seminários de História da Música, Folclore e Música Brasileira, pude estudá-lo sob a óptica da pesquisa, o que contribuiu em muito para meu crescimento pessoal e profissional, fazendo-me crer naquela ocasião que, somente desta forma, poderia evidenciar a importância do compositor e que assim que possível, eu deveria desenvolver um projeto de mestrado, visando com isto uma perspectiva mais abrangente das questões às quais venho me dedicando com grande amor e profissionalismo.
Em 1998 lancei meu primeiro disco solo (Violão Brasileiro/Niterói Discos), onde dediquei cinco peças à estreia fonográfica do compositor, além do que este fato, gerou -com os direitos autorais- para Luis Gonzaga a realização de um sonho de mais de 50 anos, visitar sua família em sua terra natal. Desde então todos os anos em agosto, no mês de seu aniversário, são realizados recitais em sua homenagem, o que despertou a atenção dos críticos especializados, que identificaram em “Gonzaga”, o último grande compositor de sua geração a ser descoberto,resultando em algumas produções.
Em 2001, o primeiro “CD” somente com suas músicas – “Fazendo Música”-novamente pelo selo de Niterói, produzido por mim, que também atuei como intérprete, ao lado de mais sete violonistas: Artur Gouvêa, Célio Silveira, Graça Alan, Edgard Oliveira, Francisco Frias, Marcos Lerena e Sergio Knust. através desses eventos,exatamente em uma Homenagem realizada em Niterói em 2004,estava presente o então reitor da UFF, Cícero Fiálho, que gostou de rever o velho Gonzaga e de saber de sua importância para a Cidade de Niterói e aceitou a proposta feita por mim,de se editar algumas peças,sendo assim, encaminhou para o professor Francisco Frias,outro ex-aluno do Gonzaga,que coordenou o projeto na Universidade Federal Fluminense,sendo finalizado na gestão seguinte.
Em 2006, Luis Gonzaga da Silva morre, deixando vários amigos e uma obra, importantíssima para o violão Brasileiro. Em 2007, ingressei no Mestrado em Práticas interpretativas (UFRJ), com o Tema: “O VIOLÃO NO RIO DE JANEIRO – A perspectiva da obra para violão de Luis Gonzaga da Silva”.
Espero Homenageá-lo dando continuidade a divulgação de sua obra, demonstrando academicamente o seu valor e assim perpetuar seu nome junto aos grandes compositores, violonistas universais.
WMeirelles