Gerson Argolo Filho, conhecido popularmente como Gerson Filho, o Rei dos 8 Baixos, nasceu no dia 12 de maio de 1915, na Fazenda Mundeis no Município de Penedo em Alagoas, Filho de Henrique Argolo Filho e Maria Etelvina da Conceição. Aos 10 anos de idade seus pais o mandaram a casa de sua tia,em Penedo, para iniciar seus estudos.

Quando de sua ida para o primeiro dia de aula, foi acompanhado da tiaaté a Escola e no caminho ouviu o som de uma sanfona de 8 Baixos e ficou encantado, ao regressar da aula, localizou a casa de Zé Moreno, conhecido tocador de 8  Baixosa quem fez uma visita, e pediu para tocar ganzá, instrumento que já tocava no folclore da fazenda de seu pai, sendo atendido pelo brilhante sanfoneiro. A partir daí,  basicamente se transferiu para a residência no novo amigo.

Segundo informações contidas na contra capa do LP o menino Gerson, toda vez que Zé Moreno saia para resolver algum problema de imediato Gerson Filho pegava a sanfoninha de 8 baixos e começava a tocar. Gerson aprendeu sozinho, e certa feita Zé Moreno quando voltou do comércio, encontrou o menino se deleitando na sanfona e o mestre não hesitou, deixando-o a vontade, ficou apenas ouvindo Gerson tocar. Quando percebeu que já estava na hora da volta do amigo guardou a sanfona e ai então Zé Moreno fez de conta que não tinha visto nada e entrou em casa.

O tempo foi passando e quando já tinha completado 12 anos e se aproximava os festejos juninos, Zé Moreno, sabendo das qualidades de Gerson pegou mais de um contrato e o chamou para comunicar que em um desses contratos seria ele que iria substitui-lo. O menino o questionou dizendo que não sabia tocar, foi quando Moreno relatouque já,há algum tempo,vinha observando suas peraltices com o instrumento e o convenceu a substitui-lo e assim foi o seu batismo, em um baile de São João em 1927. Fato este que sempre relatava em conversas com os amigos e com a família, segundo relato concedido em entrevista concedida por Robertinho dos 8 Baixos, filho e seu fiel representante, a José Lessa, www.forroalagoano.com.br

Nasceu assim,naquela noite, uma nova estrela na Música Popular Brasileira, e daquele dia em diante, só parou de tocar em 1994, quando do seu falecimento, cujos restos mortais estão sepultados no Cemitério São João Batista, em Aracaju.

Gerson logo se tornou um fenômeno na região. Naquele de mesmo ano de 1927, seu pai o convocou de volta para a fazenda. Contudo, vale ressaltar que Gerson com os recursos que ganhou na primeira tocada, comprou o seu primeiro fole de 8 Baixos, como também é conhecido.

Ao voltar para os Mundeis, Gerson continuou tocando e aos sábados quando ia para a feira vender os produtos da fazenda, a sua sanfoninha o acompanhava e logo as mercadorias eram vendidas, pois todos aguardavam para o vê-lo tocando. Com o passar do tempo Gerson montou uma casa comercial no baixo meretrício, onde durante o dia funcionava como comércio e a noite funcionava o Cabaré “Orgia Lua Branca”, frequentada por marinheiros e boêmios, na época do apogeu de Penedo como tradicional porto fluvial que abastecia o sertão de Alagoas, Sergipe, Bahia e Pernambuco.

Um fato que vale a pena ressaltar é que ainda hoje encontramos pessoas que vivenciaram aquele período, como Caverinha, que continua residindo em Penedo, que o acompanhava como ritmista, tocando pandeiro,antes e depois do sucesso, ou do Sr. José Quirino, hoje residindo em Aracaju, proprietário de uma loja de disco e atualmente vendendo vinil e livros usados, além de diversas pessoas que entrevistei recentemente como José Firmino. Ninguém o conhecia como Gerson Filho, e sim como Ger-son.

No ano de 1948, Gerson embarca clandestinamente em um porão de navio e chega até Vitória do Espirito Santo e daí sai pedindo carona até chegar ao Rio de Janeiro e segundo entrevista prestada a José Batista em 1989, Gerson relata que um último trecho da viagem fez a pé.

Ao chegar ao Rio de Janeiro, ouvindo os programas de rádio, observou que tocava tanto quanto os grandes músicos da época e logo comprou uma sanfona de 8 Baixos e participou do Programa de Gentil Cardoso, obtendo uma nota de 4,5, ora a nota máxima era 5 e começou a ganha fama, ganhou o concurso da Rádio Guanabara, sendo contratado por esta emissora.

Gerson tinha um temperamento forte, e como só lhe colocavam para tocar no final do programa, deixou a emissora no ano de 1953 e foi tentar a sorte em Belo Horizonte.

Gerson voltou no mesmo ano e por acaso em um ponto de ônibus ao comentar a demora, naquela ocasião, havia dois senhores e um deles se dirigiu a Gerson dizendo que era seu fã. Gerson o questionou, era Venâncio e Corumba. Logo Venâncio lhe perguntou? Você não é o Gerson Filho da Rádio Guanabara e o convidou para participar de suas apresentações, imediatamente aceita.

O Ano de 1953, foi marcante em sua vida, pois o novo amigo o levou a Gravadora TODAMERICA, depois de um belo chá de cadeira como se diz no popular, logo se aborreceu e quando já estava descendo as escadas da gravadora, Venâncio o chama, dizendo que era a sua hora de entrar para mostrar seus trabalhos.Foi um dia muito importante na vida de Gerson.

Ao apresentar seus trabalhos, logo a gravadora TODAMERICA, o contratou para gravar seu primeiro disco em 78 RPM, data que marca a história da fonografia brasileira. Gerson Filho foi o primeiro músico brasileiro a gravar em sanfona de 8 Baixos ou famoso pé de bode. Neste primeiro disco também apresentou ao Brasil a Quadrilha com a composição de sua autoria “Quadrilha na Cidade” e naturalmente o primeiro baião gravado neste instrumento “Catingueira do Sertão” segundo Leo Rugero em A sanfona de 8 Baixos.

Segundo Gerson Filho, a sua primeira composição foi o forró “Choveu em Minha Roça”, composto aos 12 anos, portanto, em 1927, que diz em entrevista concedida ao pesquisador José Batista, muito antes de Gonzaga apresentar o baião “Vira e Mexe”,na década de quarenta no Programa de Gentil Cardoso.

Em 1957 Gerson Filho, deixa a gravadora TODAMERICA, após gravar 17 discos de 78 RP e 01 (um) LP de 10” polegadas, uma nova tecnologia, pois possibilitava a gravação de 8 composições. Gerson neste período gravou composições de sua autoria ou em parceria com grandes compositores, como Salvador Micelli, Aguiar Filho, Irmãos Orlando, Ary Monteiro, maestro Pachequinho entre outros grandes compositores da época. E gêneros musicais como Quadrilha, baião, forró, polca, rancheira, samba e frevo entre outros gêneros musicais.

Gerson Filho – Transfere-se para RCA em 1958.

Em 1958 Gerson Filho se transferiu para a gravadora RCA a maior gravadora do Brasil, antes porem gravou seu primeiro disco de 12 polegadas pela gravadora 007 com patrocínio da VASP.

Nasce o Rei dos 8 Baixos

Ao transferir-se para a RCA, Gerson ganha mais notoriedade e em 1958 lança somente discos de 78 RPM e a partir de 1959 a gravar seu primeiro LP, Solista de Fole de 8 Baixos, que tem a participação de Chico Anísio e Nancy Wanderley esposa dessa grande humorista na composição “Forró do Zé Lagoa” que leva a assinatura de ambos.

Em 1961 recebe o título de Rei dos 8 Baixos e lança um LP com o mesmo título. É uma nova fase, deste alagoano, autodidata, dos cafundós de Penedo, que transformou-se em um dos maiores vendedores de discos do genuíno forró.

A Gravadora RCA era tão importante que naquela oportunidade tinha em seu Casth o Rei do Baião, o Rei dos 8 Baixos e a Rainha do Xaxado, Gonzaga, Gerson e Marines, eram sucessos nacionalmente. Gerson continuou gravado 78 RPM até 1964, ano que essa tecnologia foi absorvida totalmente pelo LP de 12 polegadas, chegado a lançar dois LP por ano, nessa conceituada gravadora e mesmo depois de transferir-se para a continental 1970 a RCA continuou a lançar algumas coletâneas.

Na gravadora RCA seus trabalhos tinham acompanhamento do Regional do Canhoto e a participação de grandes compositores como João Silva que teve a participação cantando ou compondo algumas composições como Xodó de sanfoneiro entre outras.

No ano de 1964 trabalhava na Rádio Mairynk Veiga como sanfoneiro contratado, era um nome de prestigio nacionalmente. Clemilda trabalhava em um restaurante nas proximidades da Rádio e frequentemente ia assistir o Programa Crepúsculo Sertanejo e Gerson fazia refeições no restaurante aonde ela trabalhava e assim  seus caminhos se cruzaram e viveram intensamente durante 28 anos, segundo declaração da própria Clemilda em www.forroalagoano.com.br

Gerson Filho teve outro mérito, foi o de apresentar Clemilda ao Brasil.Em 1965 ela gravou 3 composições no LP “É Pra Valer”,lançando posteriormente o LP “Gerson Filho Apresenta Clemilda”, pela RCA em 1967, tal o seu prestigio.

Em 1969, Gerson Filho deixa a RCA e retorna ao nordeste se fixando em Aracaju e começa a apresentar o “Programa Forró no Asfalto”, na Rádio Difusora, hoje Rádio Aperipê e posteriormente na TV. Atualmente é um dos programas mais antigo do Brasil, que com o seu falecimento passou a ser apresentado por Clemilda e Meloso e com o falecimento de Clemilda continua a ser apresentado, até a presente data, pelo veterano Meloso.

Segundo Clemilda, o retorno em definitivo para o nordeste teve a influência decisiva de Silva Lima e Josa O Vaqueiro do Sertão, como ela dizia dois amigões e que ficamos eternamente gratos. Nos já éramos muito conhecidos, pois Gerson quando lançava um disco, comprava horário para divulgação do trabalho: na Bahia, Sergipe, e Alagoas principalmente. Com o Programa Forró no Asfalto, fomos contratados e a Rádio entrava em todo o nordeste o que possibilitava a divulgação da “Caravana Forró no Asfalto” e dos nossos discos.

Um Nova Gravadora a Continental. Década de 70

Gerson Filho, ganha mais liberdade para produzir seus trabalhos e em 1970 lança o seu primeiro disco em parceria com Clemilda “Forró na Paioça” e a partir de 1971, lança a Coleção 8 Baixos Brasil que contem 19 volumes, apesar de ter saído até o volume 20, contudo vale ressaltar que o Vol. 12 não foi lançado, talvez por algum descuido.

Na Gravadora continental além da “Coleção  8 Baixos Brasileiro” Gerson lançava um disco há mais que alguns pesquisadores qualificam como o disco do ano.

Como já frisei em diversas postagens que Gerson como solista de 8 Baixos na gravadora ganhou dois disco de ouro, pouco peculiar na cultura musical brasileira, Gerson não cantava e vivia inteiramente dedicado a música.

Na década de 70 em diante, poucos foram os municípios de Sergipe, Alagoas, do sertão baiano, enfim no sertão nordestino que Gerson Filho e Clemilda não tenham feito pelo menos uma apresentação com a  famosa caravana,  que contava também com a participação de Meloso com o Pastoril Profano e suas dançarinas, Maria Filiciana a mulher mais alta do mundo e artistas locais como Zé do Rojão, Afrisio Acácio em Arapiraca, Dudu, Severo, Isnaldo Santos, Edgar dos 8 Baixos, Agenor da Barra, seja nos circos, cinemas, festa junina, emancipações políticas ou nas campanhas eleitorais.

Gerson Filho, nunca deixou de manter seus vínculos com Alagoas e sua querida Penedo, era um de seus motivos de inspiração e relembrada em suas composições como em de Maceió a Penedo parceria com Dominguinhos, de Penedo a Própria parceria com Aguiar Filho, Quadrilha em Penedo e quando estava nesta bela cidade costumava ficar hospedado na casas de amigos como: Anibal Costa, proprietário de Carro de Som e seu Filho Lula Costa que sofreu grande influência e hoje como Radialista comandando o Programa de Forró na Rádio Penedo FM, líder de audiência. Caverinha, pandeirista que começou a tocar no “Orgia Lua Branca”, J Passos, Radialista e que o acompanhou muitas vezes tocando triangulo, Toninho do Trio Copacaba, do Sr. Macheira.

A memória do penedense é muito forte, pois suas apresentações nos Clubes como “A Pedra da Arara”, Sociedade “Filarmônica” ou em Clubes populares como o Vasco  pu na zona rural, é como certa feita Alcino Alves, ex Poço Redondo em Sergipe, me disse: é difícil dizer qual dos barrancos do velho Chico que Gerson na tenha tocado. Até meu município mereceu uma de suas composições, “Forro em Poço Redondo”. Alcino Alves vale lembra foi compositor de Seca Desalmada, gravado por Clemilda.

Destaco ainda a participação de grandes compositores alagoano com Juvenal Lopes e Isnaldo Santos (Ceguinho da Sanfona), Manoel “Silvano dos 8 Baixos” este ainda reside em Pilar-AL, entre outros.

Os Pseudônimos de Gerson Filho

Em Entrevista prestada a José Batista e postada em www.forroalagoano.com.br Gerson Filho revela a identidade de Penedo (compositor), Baianinho da Sanfona e Zé Piaba revelandoque por haver uma lacuna de nomes com seu estilo, resolveu apresentar alguns LPs com estas identidades. Porem outros nomes apresentara o LP “Forró na Fazendinha” que adquiriram os fonogramas como: Zé Mamede, Zé Piatã, Zé da Onça, Zé Ranulfo, Baianão, Zé Raimundo de Caruaru entre outros.

Outro fato que merece ser ressaltado é que Gerson Filho manteve sua fidelidade a sanfona de 8 Baixos no tom natural, muito mais difícil de ser tocada que as modificadas que tem grandes representantes, como Zé Calixto, Abdias, entre outros. A modificação da afinação permite que se extraia todas as notas musicais, que tornando-se um pouco mais fácil.

Gerson, sem sobra de dúvida, além de percursor deste instrumento tão difícil de ser tocado, compôs mais de 500 músicas que foram gravadas por inúmeros artistas como: Clemilda, Luiz Gonzaga (Três e Trezentos), Jackson do Pandeiro (Xodó de Sanfoneiro), Ari Lobo e João Nogueira (Pimpolho Moderno), Elizete Cardoso (Ai, Ai, Janot) Oswaldinho, Dominguinhos e Sivuca, do francês Nicolas Krassib, Fagner e Lula Sabiá (Casamento da Raposa), Oswaldinho, Joelson dos 8 Baixos, Correia dos 8 Baixos e Edgar dos 8 Baixos gravaram (Ingazeira do Norte) e que continua a serem regravadas até hoje por vários forrozeiros.

Entre outros trabalhos que Gerson participou gravando com a magia do som dos seus Baixos, temos os seguintes artistas: Clemilda, Luiz Vieira “Retalhos do Nordeste” e Volta Seca “Cantigas de Lampião”

O Rei dos 8 Baixos talvez seja o único artista representante do genuíno forró que continua com um disco em catálogo, o LP Quadrilha Brasileira, que continua a ser vendido nos grandes magazines.

Conclusão.

Gerson Filho, foi uma figura presente na história do forró e como ela mesmo dizia na composição Na volta ninguém se perde” : “Eu não sou novela não, mas como legitimo representa da Musica Popular Nordestina, me acompanhem, pois na volta ninguém se perde” e dessa forma se manteve firme na defesa das raízes nordestina e da sua sanfoninha de 8 Baixos como ele próprio dizia

Este matuto tinha uma visão muito ampla da música e da vida do músico, foi um dos sócios fundadores da Socimpro, juntamente com Luiz Wanderley, pois a vida o ensinou a lutar por seus direitos e dos companheiros. Em Plena ditadura militar em 1974, quando o brasileiro demonstrou sua insatisfação com a Ditadura, foi candidato a Deputado Estadual pelo PMDB em Sergipe.

Referências.

Contra Capa do disco em 10 Polegadas Solista de 8 Baixos, TODAMERICA, 1957

Contra capa do LP Solista de Fole de 8 Baixos, RCA, 1958.

Contra capa do LP O Rei dos 8 Baixos, Gerson Filho, RCA, 1958

Contra capa do LP Vol. 13, Coleção 8 Baixos Brasileiro, Gerson Filho, Gravadora Continental, 1958.

Entrevista concedida a José Batista em volumes 1989.

DVD Especial Clemilda, TV Aperipê

Artigo de Alcino Alves no Jornal da Cidade

Entrevista concedida a José Lessa por Clemilda em 2010 em sua residência em Aracaju.

Entrevista concedida a José Lessa por Clemilda em 2011 em sua residência em Aracaju.

Entrevista concedida a José Lessa por Clemilda em 2012 em sua residência em Aracaju.

Palestra DVD com a Palestra Joci Batista em 2012 Câmara Municipal de Maceió, II Aniversário de www.forroalagoano.com

Entrevista concedida a José Lessa por Robertinho dos 8 Baixos em 2015 em sua residência em Aracaju.

Entrevista concedida a José Lessa por José Luiz Passos em 2015 em sua residência em Aracaju.

Entrevista concedida a José Lessa pelo Radialista Lula Costa em 2015 em Penedo-AL.

Entrevista concedida a José Lessa pelo músico Caveirinha em 2015 em Penedo-AL.

Entrevista concedida a José Lessa por Toninho Copacabana em 2015 em Penedo-AL.

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