Quero acreditar que morrer é apenas atravessar para o outro lado da vida. Que aqueles que nos deixam não desaparecem, apenas se tornam invisíveis. Permanecem presentes em nossas lembranças, em nossa saudade e, principalmente, no legado que construíram em vida.
Neste 30 de agosto, fez dois anos que meu amado companheiro, parceiro de tantos sonhos, caminhos e histórias, tornou-se um ser encantado. Tornou-se invisível.



Não o vejo mais andando pela casa, arrumando seus discos na estante, buscando livros e discos nos alfarrábios da cidade, ou se aborrecendo comigo quando, exausta das longas jornadas de trabalho, não aceitava seu convite para dançar forró — sua maior paixão.
Nos conhecemos na juventude e nos despedimos, apressadamente, na maturidade. Foram 42 anos de intensa convivência. Anos de lutas, conquistas, alegrias, superações e, entre tudo o que construímos juntos, o que mais nos orgulha: nossas duas filhas, dois verdadeiros diamantes, de imensurável valor. Herança de amor e entrega.



José Lessa Gama nunca foi apenas mais um na multidão. Recusou-se a ser invisível em vida. Foi um guerreiro, defensor firme de seus ideais, militante comprometido com as causas justas e com a construção de uma sociedade mais igualitária.
Com a mesma paixão, lutou pela preservação das tradições da cultura nordestina, sobretudo o forró. Em 1982, fundamos juntos a Associação dos Moradores do Bairro do Feitosa, e ali organizamos diversos grupos de folguedos populares como Taieira, Pastoril, Coco de Roda e Reisado. No São João, nossas quadrilhas juninas amanheciam o dia ao som animado da sanfona, do zabumba e do triângulo.


Foi nesse caminho que nasceu nossa amizade com o querido Sandoval do Forró, com quem, anos depois, José Lessa fundou a Associação dos Forrozeiros de Alagoas – ASFORRAL, um marco de resistência cultural e valorização dos artistas do forró.

Meu companheiro, não se preocupe. Não estou sozinha. Nossas filhas e amigos seguem ao meu lado. E, mais do que isso, você está comigo em tudo: nas lembranças das madrugadas no quintal da nossa casa, nas conversas longas, sobre todos os assuntos, nas suas orientações sábias, na sua coragem diante dos obstáculos, nos seus princípios éticos de lealdade, honestidade e compromisso com a justiça.




Você permanece vivo em cada gesto de afeto, em cada música de forró, em cada ato de resistência e em cada memória que deixamos juntos.
O seu legado pulsa, e seguirá vivo.
Te amo sempre.
Te amo mais.