Luiz Wanderley Um Alagoano Esquecido.

Marcondes Cesta
Médico, compositor e pesquisador

Conheci, durante a minha adolescência, um artista alagoano que, do fim da década de 50 até o início dos anos 70, obteve grande destaque no  âmbito da música nordestina, juntamente com- Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Ari Lobo, Marinês e sua gente, Gordurinha, João do Vale, Jacinto Silva, Luiz Vieira. Infelizmente, Alagoas não pesquisa e não valoriza quem merece e assim ele ficou no esquecimento. (Fiz uma matéria sobre a sua morte, alguns anos atrás, sem nenhuma repercussão). Eu estou falando de. Luís Wanderley, cantor e compositor alagoano, natural de Colónia Leopoldina e um expoente da música quê reflete o ritmo do Nordeste. Nasceu em 26 de janeiro de 1930 e faleceu em 19 de fevereiro de 1993, na Paraíba, e seu corpo foi enterrado no Cemitério Santa Isabel.

Seu primeiro grande sucesso data de 1959, um baião de Gordurinha, que diz assim: “O pau que nasce torto, não tem jeito morre torto, baiano burro garanto que nasce morto…”, que recentemente foi lançado na coleção Revivendo, produzido por Leon Barg. Foram inúmeros os seus êxitos como cantor e compositor (geralmente cantava suas próprias músicas). Soube que ele foi enterrado numa cidade do interior da Paraíba.

Quem não conhece uma música sua, em parceria com João do Vale, gravada por Tim Maia?. “Coroné António Bento, no dia do casamento da sua filha Maria, ele não quis safoneiro, foi pró Rio de Janeiro e convidou Bené Nunes pra tocar…”. Tim Maia mudou Mariá por Juliana e o título da Música  Transviado” por “Coroné António Bento”. Esta música também foi gravada por Geraldo Azevedo e Kássia Eller.

Muitos cantores, considerados brega e da MPB, gravaram suas músicas, tentarei me lembrar de alguns deles: Adilson Ramos, Anísio Silva, Waldick Soriano, Nilton Cézar, Cláudia (da peça Evita), João «Nogueira, Beth Carvalho, Trio Irakitan, Francisco Egídio (grande vozeirão da década .de 50), Kássia Eller, Tim Maia, Geraldo Azevedo, Carmem Silva, Agepê, Zinho, etc. Foi parceiro de um dos maiores compositores brasileiros, chamado Wilson Batista (aquele da polémica musical com Noel Rosa), e do nosso conhecido e injustiçado Juvenal Lopes, na música “Esquenta muié”. Djavan gravou “Alagoas” e colocou como música incidental “Ô Maceió, é três muié prum home só..”, um grande sucesso de Luiz Wanderley.

Seu nome é citado em vários livros de Música Brasileira, até em um livro sobre a história do rock roll no Brasil e eu ouvi muito, na minha infância uma música sua, na voz de Carlos Gonzaga (aquele que gravou Diana, de Paul Anka, que até hoje ainda é tocada), chamada Praia do Flamengo (1957), cujos versos dizem assim: “Adeus Praia do Flamengo, só a saudade ficou no lugar, Adeus Flamengo, o prefeito mandou aterrar…”. Ganhou um concurso carnavalesco no Rio de Janeiro. Em um dos últimos .livros de Tinhorão, uma música de Luiz Wanderley intitulada “A Sopinha do Zarur” é citada. Ele não cantou e compôs apenas baião, xote, forró, xaxado, mas gravou muitos boleros, sambas e samba-canção. Aí ele começou a cair, porque a sua especialidade era fazer música nordestina.

Ultimamente a Seresta da Pitanguinha, gravou um CD de carnaval e incluiu duas músicas de Luiz Wanderley.

Fiz este artigo sem fazer nenhuma consulta, apenas comentei o que eu sei da vida do cantor e compositor, que me influenciou na arte de fazer música. Tenho todos os seus LPs, muitos dos chamados compactos duplos e simples, além de vários 78 rotações. Espero que aqueles que gostam da pesquisa e os órgãos culturais se interessem mais por esta figura, que deixou músicas como: “Eu era um homem rico da cidade do Pilar, agora fiquei pobre e ninguém quer me ajudar…” ou “Eu vou dançar o coco no Gogó da Ema, eu vou cantar o coco no Gogó da Ema…”

Espero que tragam seus restos mortais para Alagoas, sua terra natal. Espero, também, que os novos cantores da música nordestina procurem ouvir a voz e as composições de Luiz Wanderley.

Publicado na Gazeta de Alagoas de 14 de agosto de 2004