ENCONTRO FORRÓ

ENCONTRO NACIONAL PARA SALVAGUARDA DAS MATRIZES DO FORRÓ 10 de setembro de 2015 – João Pessoa/PB Carta de Diretrizes para Instrução Técnica do Registro das Matrizes do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil Os participantes do Encontro Nacional para Salvaguarda das Matrizes do Forró, reunidos na cidade de João Pessoa, no dia 10 de setembro de 2015, apresentam abaixo as diretrizes para a Instrução Técnica do Registro das Matrizes do Forró como Patrimônio Cultural do Brasil, a serem encaminhadas ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Eixo 1 – Aspectos Conceituais

  1. A Instrução Técnica do Registro das Matrizes do Forró deve contemplar toda complexidade das matrizes do forró. As matrizes envolvem gêneros musicais (baião, xote, xaxado, arrasta-pé, rojão, etc.) e também danças, festas, modos de fazer instrumentos musicais, lugares especiais onde tais referências culturais são mais simbólicas, etc.
  1. A Instrução Técnica do Registro deve definir a estrutura rítmica, melódica e harmônica das matrizes forrozeiras selecionadas pela solicitação de Registro realizada em 2011;
  1. A Instrução Técnica deve promover estudos transdisciplinares a fim de contemplar a complexidade fenomenológica das matrizes forrozeiras, reunindo profissionais da antropologia, etnomusicologia, história, música, artes (dança e performance), letras, entre outros, envolvendo sempre no trabalho a participação direta da comunidade forrozeira;
  1. Observar na Instrução Técnica que as matrizes do forró:

4.1. se inspiram, entre outras influências, em fontes artístico-culturais africanas e ameríndias;

4.2. vivencia e canta o cotidiano (a vida dos trabalhadores, os amores, os processos migratórios, as brincadeiras de “duplo sentido”, etc.), as alegrias e as tristezas do “povo nordestino” e temas socioculturais como “cangaço”, “seca”, “natureza”, “saudades”, “êxodo”, etc.;

4.3. tem como instrumentos musicais “tradicionais” (embora não se restrinjam a eles): o acordeon, a sanfona de oito baixos (também conhecida como fole de oito baixos ou gaita ponto), a zabumba e o triângulo (no modelo do “trio gonzagueano”); a rabeca; o pandeiro e o agogô;

ENCONTRO NACIONAL PARA SALVAGUARDA DAS MATRIZES DO FORRÓ 10 de setembro de 2015 – João Pessoa/PB

4.4. existe um divisor de águas na definição dinâmica das matrizes do forró: antes e depois de Luiz Gonzaga. Antes todas as matrizes forrozeiras estavam dispersas na criatividade artística dos “sertões”, especialmente no que hoje é a “Região Nordeste”; e os forrós, mais do que estilos musicais, eram festas, batuques, bailes, etc. Depois, o forró se modernizou e se urbanizou, entrando de vez no mercado musical brasileiro, tornando-se um “guarda-chuva” que agrega várias musicalidades e referências culturais sistematizadas pelo termo “forró”;

  1. A Instrução Técnica de Registro deve definir melhor, juntamente com as comunidades forrozeiras interessadas no Registro o que se compreende como matrizes do forró – para além do que já foi debatido no Encontro Nacional para Salvaguarda das Matrizes do Forró.

Eixo 2 – Territórios e comunidades

  1. A Instrução Técnica de Registro das Matrizes do Forró deve priorizar os festejos tradicionais, bem como os seguintes atores/agentes sociais como fundamentais para a construção do Registro: músicos, compositores, poetas, trabalhadores rurais (especialmente os vaqueiros), dançarinos, artesãos ou estilistas das indumentárias (roupas e sapatos de dança), pesquisadores, produtores culturais, comunicadores e artesãos (sobretudo os que trabalham diretamente na fabricação e manutenção de instrumentos tradicionais do forró).
  1. Ainda que se entenda não ser possível realizar uma pesquisa em campo exaustiva em todos os territórios em que o Forró ocorre, indicamos que a Instrução Técnica deve observar que:

2.1. Na região Nordeste, as matrizes do forró estão bastante espalhadas tanto no meio urbano como no meio rural, embora possamos definir alguns “polos” de pesquisa como João Pessoa, Campina Grande, Alagoa Grande, Monteiro, Patos e Cajazeiras, na Paraíba; Recife, Olinda, Caruaru, Arcoverde, Bezerros (Serra Negra) e Exu, em Pernambuco; Fortaleza, Crato, e demais cidades na região do Cariri no Ceará; e as capitais dos demais Estados;

2.2. Nas demais regiões do país, a Instrução Técnica deve considerar determinados lugares simbólicos para o forró, sobretudo, em espaços de afirmação e celebração da “cultura nordestina” (em função dos grandes fluxos migratórios do último século) como a

Feira de São Cristóvão no Rio de Janeiro, os Centros de Tradição Nordestina em São Paulo, as Feiras populares do Distrito Federal, dentre outros;

2.3. É necessário identificar as organizações que defendem os interesses dos forrozeiros;

  1. A Instrução técnica deve mapear museus, universidades, bibliotecas, acervos públicos e particulares, arquivos, cursos, programas de rádio e TV, sites, blogs, comunidades virtuais, artigos, monografias, dissertações, teses, livros e coleções que possam contribuir de alguma forma para o processo de Registro das matrizes do forró.
  1. Ao final da presente carta, segue uma lista com indicações de pessoas e lugares referenciais para as matrizes do forró segundo apontamentos espontâneos dos participantes do Encontro Nacional para a Salvaguarda das Matrizes do Forró.

Eixo 3 – Sustentabilidade

  1. A Instrução Técnica de Registro deve apontar que o processo de salvaguarda das matrizes do forró será diversificado de acordo com as particularidades locais de cada comunidade forrozeira.
  1. O processo de salvaguarda deve priorizar a identificação e valorização de comunidades forrozeiras presentes no interior do Nordeste e do Brasil que dificilmente são contempladas por políticas públicas culturais.
  1. O processo de salvaguarda deve mapear quais são os potenciais interlocutores da sociedade civil e dos poderes públicos que poderão mediar as políticas de patrimônio cultural promovidas pelos órgãos competentes a partir do Registro.
  1. O processo de salvaguarda deve otimizar e possibilitar a construção de uma rede de contatos e comunicação de parceiros vinculados ao bem cultural registrado.
  1. O processo de salvaguarda deve identificar estratégias de educação patrimonial voltadas para a valorização das matrizes forrozeiras nos espaços do ensino formal e informal.
  1. O processo de salvaguarda deve promover a formação de gestores públicos municipais e estaduais na área de cultura em torno da elaboração de projetos voltados para as mais diversas demandas das comunidades forrozeiras espalhadas pelo território brasileiro, especialmente no Nordeste.
  1. Criação e estruturação de centros de referências culturais voltados para a identificação, reconhecimento e salvaguarda das matrizes do forró.

7.1. Estimular a criação de centros de referências culturais nas embaixadas brasileiras em capitais dos países onde o Forró atualmente tem um forte movimento, inclusive com Festivais próprios organizados anualmente, como França, Portugal, Alemanha, Rússia, por exemplo e que tem sido sustentado somente pelo esforço de brasileiros, principalmente os dedicados ao ensino das danças típicas do gênero.

1 comentário em “O FORRÓ SERÁ PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO – Carta de João Pessoa”

  1. Espero sinceramente que a carta de João Pessoa,traga algum beneficio real para os forrozeiros,porque a grande mídia não dá a mínima para a cultura nordestina,e todos nós sabemos disso….Aqui mesmo em nosso nordeste,são pouquíssimas ás rádios que tocam o verdadeiro forró,e muitas só tocam na base do jabá !! outra coisa gravíssima que acontece em nossa região,são os prefeitos a maioria deles só estão interessados em sua promoção política pessoal.não contratam os forrozeiros tradicionais,só ás tais bandas que estão na moda,que se dizem forrozeiras, o que absolutamente não é verdade.Nos dias atuais, nós temos um aliado excelente que é a Internet que é livre e com alcance mundial,é o que nos salva de morrer no ostracismo.E verdade seja dita,este site aqui forroalagoano.com através do seu fundador o incansável José Gama Lessa,faz um trabalho de gigante sempre defendendo o nosso querido e verdadeiro forró…..Não poderia de deixar de citar outro grande divulgador da nossa cultura,o grande compositor radialista comunicador,incentivador,professor cantor e sanfoneiro (AFRISIO ACACIO) criador do projeto cultura na praça, na cidade de Arapiraca.Um grande abraço a todos, e viva o verdadeiro forró……Chico Santos….

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